Humilhados e ofendidos: novo percurso temático em Todos os nomes
AURORA GEDRA RUIZ ALVAREZ

Na Modernidade, a questão da identidade é um dos temas mais recorrentes tanto na prosa romanesca como nas obras de arte. Sob esse enfoque, o homem é visto como um sujeito socio-histórico que, muitas vezes, anseia por se conhecer e por descobrir o seu posicionamento no mundo. Na obra de José de Saramago, esse tema está presente em vários de seus romances, como em Ensaio sobre a cegueira, A caverna, O homem duplicado, Ensaio sobre a lucidez, Todos os nomes, para citarmos apenas alguns títulos. Nestas obras, via de regra, as narrativas gravitam em torno do processo de construção da autoconsciência das personagens por meio da interação com o outro. O último romance referido é matéria deste estudo que visa a examinar o modo como o protagonista luta por se ressignificar diante de um sistema opressor, que homogeneíza os seres. Neste trabalho, partiremos de uma breve análise de Akáky Akákievitch, de O capote, de Nikolai Gogol, personagem emblemática do funcionário público oprimido pelo sistema, para traçarmos um paralelo entre o modo como ela é construída na narrativa do escritor ucraniano e o modo como em Todos os nomes, a personagem Sr. José, por meio de um processo mítico-ontológico, constitui o seu processo identitário. Para desenvolver este estudo, serão fundamentais as contribuições teóricas da Mitologia (especialmente Jean Chevalier e Alain Gheerbrant) e da Filosofia da Linguagem (Mikhail Bakhtin, em particular).

Palavras-chave: Mito. Identidade. José Saramago.