Temas, formas e obsessões em Claraboia, de José Saramago
PEDRO FERNANDES DE OLIVEIRA NETO

Escrito em 1952 e só publicado postumamente, Claraboia se constitui, assim como Terra do pecado, o primeiro romance de José Saramago, numa peça fundamental para observar o escritor em processo de laboração dos procedimentos narrativos e a gênese e conformação dos temas que viria perseguir ao longo das publicações a partir de Levantado do chão, livro que o próprio escritor sempre julgou de bom grado ser a marca inicial sua como romancista. Essa constatação transformada em objetivo para a leitura desse romance não se constrói gratuitamente, mas a partir de considerações também do escritor que reiterada vezes admitiu ser necessário, para observar a gênese dos temas e de sua escrita, a leitura de suas crônicas, gênero cultivado por ele desde cedo. Também Horácio Costa, um dos que pertencem à primeira geração de estudiosos da obra saramaguiana e até então um dos raros que se debruçou sobre a obra primeira de Saramago terá concluído que a produção do período que antecede Levantado do chão é fundamental para uma compreensão mais acabada acerca da literatura saramaguiana. Observamos determinadas categorias da narrativa, tais como personagem, tempo e espaço, a construção de temas como o feminino, a relação entre ficção e história, entre outros aspectos que reforçam o reconhecimento dessa obra como elementar na bibliografia de José Saramago. Ao fazer a leitura do romance por esse ângulo, isto é, situado no tempo da sua escrita e olhando para as produções posteriores, queremos não apenas reiterar essa importância de elemento fundamental para a compreensão da produção romanesca do escritor e referendar a importância exercida por textos da sua juventude sobre a obra da maturidade, mas também destacá-lo como peça original no interior do projeto literário saramaguiano.

Palavras-chave: José Saramago. Claraboia. Crítica. Interpretação.

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