Uma viagem rumo ao sul: A jangada de pedra e o pensamento pós-abissal
CHARLES VITOR BERNDT
Partindo da concepção de pensamento abissal elaborada por Boaventura de Souza Santos, procura-se neste trabalho discutir de que modo José Saramago, no romance A jangada de pedra, dá conta de representar a linha abissal que sempre existiu na Europa, separando o norte do sul, ou seja, mantendo num certo lugar de hegemonia e privilégio a cultura dos países centrais do continente e subalternizando as culturas dos países do sul, sobretudo Portugal e Espanha. Na narrativa saramaguiana, portanto, o desprezo secular da velha Europa pelos países ibéricos é metaforizado através de uma falha geológica que surge nos Pirineus, na fronteira franco-espanhola. Após a rachadura, a península ibérica, já transformada em ilha, começa a vagar pelo oceano atlântico, obrigando portugueses e espanhóis a se lançarem numa nova viagem no mesmo mar de outrora, em busca de uma nova identidade, de uma nova história e de um novo destino. Procuraremos, dessa maneira, perceber de que modo o escritor português representa a linha abissal existente na Europa e de que modo imagina e sonha uma possível solução para essa situação, alinhando-se ao que Boaventura de Souza Santos chama de “pensamento pós-abissal”.
Palavras-chave: Pensamento abissal. A jangada de pedra. José Saramago. Boaventura de Souza Santos. Europa.
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