“Vem de que o poema?” Considerações sobre a poesia de José Saramago
SANDRA FERREIRA

Este artigo considera a poesia de José Saramago a partir da inflexão metalinguística constitutiva de poemas em que o comportamento lírico tende à observação transformadora, no que diz respeito ao mundo e à linguagem. Serão analisadas amostras poéticas inseridas em Os poemas possíveis (1966) e Provavelmente alegria (1970), cuja seleção se pautou na premissa do fazer poético como motivo saramaguiano. O objetivo desta análise é refletir acerca do confronto criativo de José Saramago com a escrita, sob o ângulo revelador em que, simultaneamente, compõe sua criação poética e sobre ela pondera. Para isso, o eu-lírico busca compreender o que são o poeta e o poema, associando as possíveis virtudes poéticas a uma faculdade argumentadora. Tal associação, segundo Paul Valéry, confere aura clássica à poesia. O artigo, portanto, reflete sobre o modo com que a metapoesia de José Saramago se reveste dessa aura clássica, por revelar um eu-lírico crítico intimamente associado à reflexão sobre o trabalho poético. Os poemas analisados apresentam figuras expressivas do que a poesia é ou poderia ser na confluência entre mundo e poema: afeita à linguagem corrente e, muito mais que depositária, produtora de realidade.

Palavras-chave: José Saramago. Poesia. Os poemas possíveis. Provavelmente alegria.