A cegueira saramaguiana como construtora da consciéncia coletiva
JOSÉ GONÇALVES

Despoletado pelo conceito de consciência, pretendemos refletir acerca do mesmo, no âmbito do romance Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, interpretando o acontecimento-rutura nele materializado e a compreensão do coletivo e a significação da sua conduta, para a construção de uma consciência coletiva com a sua devida intencionalidade na sociedade, materializando-a através da ação discursiva, protagonizada pelo Herói Coletivo saramaguiano. A necessária revolução, preconizada pelo grupo de pessoas, agora cegas no que concerne ao campo visual, metaforicamente e imageticamente desenvolvidas pelo Nobel da Literatura, para aludir à consciência coletiva e perceção de uma realidade, então banalizada pelos cidadãos de uma determinada cidade, país, região, alertando, no seu Livro de conselhos, para a necessidade do processo contínuo de lucidez onde “Se podes olhar vê. Se podes ver, repara”, vê aqui a necessidade de uma verdadeira experiência, tal como defendida por Walter Benjamin, tendo esta de ser coletiva, histórica, onde Agamben reforça que aquela autêntica revolução, não somente aponta mudar o mundo mas também, e não menos importante, a experiência do tempo. Situações-limite, situações de rutura com a ordem natural das coisas, no já genial método de construção de estórias e de uma História, o “e se”, é o azimute que Saramago define para que o herói-leitor, a partir daquelas, reflita, num estado de aproximação-repulsa ante o desenhado, de forma a concluir do ser do ser, da condição humana e a importância da nossa individualidade e do coletivo, assim como dos nossos direitos, mas também dos nossos deveres. Só assim, o caminho a seguir, enquanto Humanidade, que carrega a esperança de um autor-cidadão, que não se deixa cegar e se reconhece na mulher-humanidade.

Palavras-chave: Consciência coletiva. Intencionalidade coletiva. Herói coletivo. Cegueira. Lucidez.

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