A dupla visão do cronista: Deste mundo e do outro
DENISE NORONHA LIMA
O primeiro livro de crônicas de José Saramago (Deste mundo e do outro, 1971) reuniu os textos publicados no jornal A Capital durante os anos de 1968-69. A propósito deste volume, o presente artigo pretende analisar como o hibridismo do gênero se revela no duplo olhar do cronista, ou seja, entre o real e a ficção, o passado e o futuro, a vida e a morte, compondo, assim, textos que habitam “este mundo e o outro”. Dentre os diversos temas que o autor aborda, destacam-se a memória, a literatura, o tempo e o homem, responsáveis pelo teor autobiográfico do livro. Dessa perspectiva, as crônicas assumem, na vida e na obra de Saramago, um papel formador, na medida em que o exercício dessa “caligrafia” do escritor se desenvolve a partir de sua memória pessoal, que naturalmente se liga à do seu povo e à do seu país. Formalmente, observa-se como Deste mundo e do outro contém certos traços que caracterizam o estilo do autor a ser revelado em seus romances, como a digressão do narrador, a ironia, o lirismo, a cadência da frase. Tais aspectos tornam as crônicas imprescindíveis para a compreensão da obra de Saramago como a expressão do autor em seu espaço memorialístico e histórico.
Palavras-chave: José Saramago. Crônica. Memória.
The first book of chronicles written by José Saramago (Deste mundo e do outro, 1971) collected the texts published in the newspaper A Capital during the years 1968-69. Regarding to this volume, the present article aims to analyze how the hybridism of the genre is revealed in the double look of the chronicler, that is, between the real and fiction, the past and the future, life and death, thus composing texts that inhabit “this world and the other.” Among the various themes that the author approaches, the most significant are memory, literature, time and man, responsible for the book’s autobiographical content. From this perspective, the chronicles assume in Saramago’s life and work a formative role, insofar as the exercise of the writer’s “calligraphy” develops from his personal memory, which naturally connects with that of his people and his country. Formally, one observes how Deste mundo e do outro contains certain traits that characterize the author’s style to be revealed in his novels, such as the narrator’s digression, irony, lyricism and the cadence of the phrase. Such aspects make the chronicles essential for the understanding of Saramago’s work as this author’s expression in his memorial and historical space.
Keywords: José Saramago. Criticism. Memory.
ver texto :: voltar ao sumário