A jangada de pedra saramaguiana no processo de territorialização europeia
JOSÉ GONÇALVES
Partindo dos conceitos de terra, território, territorialização, desterritorialização e reterritorialização, defendidos por Gilles Deleuze e Pierre Félix Guattari, analisaremos a obra A jangada de pedra de José Saramago, sendo a rota geográfica materializada pelo bloco ibérico o eclodir de uma consciência de identidade, face à Comunidade Europeia, na qual valores como a liberdade, solidariedade, respeito, compreensão, inclusão, seriam os seus pilares de edificação e manutenção no tempo e no espaço. Aqui será salientada a crítica feita pelo autor à tentativa de anulação da singularidade dos países e do seu arquivo imaterial que o identifica, perante uma territorialização que tende a unificar um bloco europeu, já de si diferenciado culturalmente de acordo com cada um dos países a ele pertencente. Os processos sinalizados a partir do pensamento dos autores estudados sevem de base para uma análise da evolução do trilho de integração projetado e que levou ao pedido de adesão de Portugal, assim como Espanha, à Comunidade Económica Europeia, em 1977, países integrados, simultaneamente, a 1 de janeiro de 1986, após Tratado de Adesão assinado a 12 de junho do ano anterior, em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos. O percurso levado a cabo pela jangada de pedra apresenta por José Saramago é o despoletar de uma reflexão profunda sobre o caminho seguido desde então, não se fechando nesse friso cronológico, ampliando, desta forma a análise para tempos anteriores, onde se reforçam as alianças e as relações de poder e de impacto para as populações dos países em causa.
Palavras-chave: Europa. Península Ibérica. Territorialização. Identidade. Cultura.
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