Saramago cronista: o homem frente ao espelho
LAURA VENTURA
“As crônicas dizem tudo aquilo que sou como pessoa”, escreveu José Saramago e acrescentou a esta afirmativa uma chave a mais para explorar sua obra, seu pensamento e sua própria história: “Tudo está nas crônicas”. Por isso, este gênero constitui muito mais que um ponto de partida para estudar a narrativa, tanto de ficção, como de não-ficção (colunas, editoriais, ensaios etc.) do escritor Prêmio Nobel de Literatura. Explorar suas crônicas em primeira pessoa implica confrontar José Saramago e o homem de seu tempo e de sua terra frente a frente. A produção de crônicas do escritor português começou na década de sessenta, em Portugal, simultaneamente, com a ebulição que registrava nas redações dos Estados Unidos quando um grupo de jornalistas se juntava na criação de um novo gênero e estilo que logo se denominaria “Novo Jornalismo”. Saramago forjou naquele momento sua própria experiência como cronista por uma linha original. Suas alegorias, tópicos e perspectivas sobre a literatura e a existência humana, elementos de seu vasto universo que logo povoarão sua narrativa e dramaturgia, estão plasmados em suas crônicas de juventude. Na atualidade, a crônica hispano-americana goza de vitalidade graças à reflexão e ação de um grupo de intelectuais que estudou e definiu os elementos do gênero, assim como incluíram em meios de publicação em massa esses discursos onde se encontra o jornalista e a literatura. Saramago ingresso cedo nesse debate a partir de suas próprias crônicas e criou um estilo e um prosa que emite seu próprio reflexo, uma imagem nítida de um homem e de sua solidão.
Palavras-chave: Crônica. Intra-história. Espelho. José Saramago.
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